segunda-feira, 4 de abril de 2011

“A dor da Alma Dói no Corpo”

 Recebi o texto abaixo e repasso a todos (as).

Foi salutar a revista Veja/Edição 2211 – 6 de abril/2011, aprofundar o tema sobre “A dor da Alma Dói no Corpo”. Psiquiatra americano Stephen Stahl, de 59 anos, professor da Universidade da Califórnia, decidiu estudar a relação entre dor física e depressão. Apesar de acometer até 80% dos doentes, um problema raramente é associado ao outro. Especializado em neurologia e farmacologia, ele se dedica a desvendar (e tentar reverter) o desequilíbrio cerebral que faz com que a vida dos deprimidos seja ainda mais penosa. Stahl esteve em São Paulo recentemente para dar uma palestra sobre depressão e dor para médicos brasileiros. Nessa ocasião, falou a Veja.   Um dos questionamentos foi “ Por que até hoje o diagnóstico da dor física associada à depressão é tão difícil? Nos manuais de medicina, os sintomas da depressão são os seguintes: perda de vitalidade ou de interesse pela vida, dificuldade de concentração, sentimento de culpa, problemas de sono (excesso ou falta dele), pensamentos ou atos suicidas, fadiga, alterações de apetite e peso (tanto ganho quanto perda), comprometimento da habilidade psicomotora (agitação o lentidão).Nenhum deles está relacionado à dor. Se um paciente me procura reclamando de insônia, tristeza e dor, não adianta nada eu só tratar a insônia e a tristeza, como a maioria dos psiquiatras faz. O conceito de remissão, de cura completa, prevê o desaparecimento de todos os sintomas depressivos. Oito de cada dez pacientes com depressão moderada ou grave apresentam algum tipo de dor, em maior ou menor grau. Ou seja, estamos falando de milhos de pessoas em todo o mundo que não se recuperam do quadro depressivo completamente, porque continuam a sentir um sintoma que não é reconhecido como do âmbito da doença.  “Quando foi estabelecida a relação entre depressão e dor?” No dia a dia dos consultórios, percebíamos que os pacientes deprimidos se queixavam muito de dor – de todos os tipos e intensidades. Vejo isso desde o início da minha carreira, nos anos 80. Por muito tempo, no entanto, eu interpretei essas reclamações como uma fantasia dos doentes. Tenho uma formação acadêmica extensa, especializei-me em neurologia e farmacologia. Olhava para essas queixas com muita desconfiança. Conforme fui me aprofundando nos estudos sobre o cérebro e os circuitos cerebrais, comecei a perceber que estava totalmente enganado. Entendi que os neurotransmissores substâncias químicas responsáveis pela comunicação entre os neurônios) envolvidos nos quadros depressivos estavam associados também à sensação de dor e poderiam ser afinados com medicamentos tal qual um músico afina seu instrumento. Fiquei com muita vergonha só descobrir que as queixas de meus pacientes eram reais. Em meados dos anos 90, surgiram os antidepressivos com ação em seretonina e noradrenalina (neurotransmissores associados à sensação de bem estar).      Pudemos perceber então que os pacientes relatavam  uma melhora no quadro da dor. Essa é a prova de que algumas dores são decorrentes do mau funcionamento dos neurotransmissores. Hoje tento passar esse aprendizado para os médicos mais jovens, para que eles não cometam o mesmo erro que cometi no passado. É assim que a medicina funciona, mudando paradigmas.
Veja essa reportagem na pág 100/Saúde (Exclusivo Veja) – domingo, principalmente para nós, profissionais de saúde.

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