terça-feira, 8 de março de 2011

Vitória e o carnaval - Luiz Renato de Araújo Pontes

Vitória - filha de seu José e dona Maria - nasceu em uma cidade do interior do Nordeste. Mal tinha nascido e seus pais tiveram que migrar para a capital a procura de trabalho para manter a família. 
 A pequena menina recebeu esse nome em virtude da sua mãe, quando grávida, ter sofrido um acidente, quando atravessava uma rodovia a quilômetros de distância de sua casa, para poder conseguir um pouco de água barrenta para cozinhar.
 A criança nasceu prematura, e por um milagre, como dizem eles pela fé, mãe e filha conseguiram escapar. Como a vizinha já tinha uma filha chamada Milagre, seu José e dona Maria decidiram chamar a menina de Vitória.
 Após uns meses do nascimento de Vitória a estiagem se prolongou ainda mais. Os problemas foram aumentando pela escassez de água e comida. Assim, dona Maria desesperada disse: José! Vamos embora daqui. Não temos água nem comida e muito menos leite do meu peito para poder saciar a fome da pequena Vitória.
  Diferente das mulheres que são determinadas, José exitou por um momento de deixar sua terra. Não era fácil, aventurar, em outro local estranho, com uma mulher e filha de braço. Mas a situação obrigava, mesmo com todo o medo e angustia. Era uma questão de sobrevivência.
 Partiram logo cedo, ficando para traz apenas lingüiça, como era chamado seu magro cachorro de estimação.  No entanto, levava a dor de um exilado dentro do seu próprio Estado.
 Na capital, como todo migrante pobre e sem capacitação profissional, seu destino já estava anunciado. Morar em uma favela. Hoje, chamada de comunidade e dar um duro sobre humano para tentar sobreviver.
 Vitória, como seu próprio nome indica, conseguiu vir ao mundo em condições adversas, mas não conseguiu escapar da miséria que muitos brasileiros já nascem predestinados.
 Desde criança Vitória percorre as ruas, as esquinas, os semáforos, estendendo suas mãos magras, infantis, implorando uma moeda para levar para casa e ajudar o minguado orçamento da família.
 Nesse carnaval, a menina foi para rua, não para mendigar, mas para descer a avenida com as diferentes classes sociais.
 Retornando para casa, Vitória fez a seguinte observação: pela primeira vez as pessoas não viraram as costas para mim. Esqueça isso minha filha, depois do carnaval as pessoas tiram a máscara, a indiferença volta e a vida retorna como ela é.

O mais grave é que Vitória não é exceção da vida real. Enquanto isso temos: carnaval, samba e futebol mascarando o sofrimento de quem morre de sede em frente ao mar. Anadja
        
        
        
                                                               

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