terça-feira, 15 de maio de 2012

*Editorial da edição 480 do Brasil de Fato*

 Repassando....

Veja, como o crime organizado faz jornalismo
A Operação Monte Carlo, desencadeada pela Policia Federal (PF) para
desbaratar a quadrilha comandada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira, já é
merecedora de um mérito: publicizou o conluio de setores da grande mídia
com o crime organizado para alcançar objetivos econômicos e políticos.****
As investigações da PF, com informações documentadas e já amplamente
divulgadas, atestam que o bicheiro utilizava a revista Veja, do grupo
Abril, para disseminar perseguições políticas, promover suas atividades
econômicas ilegais, chantagear, corromper e arregimentar agentes públicos.
A revista se prestava a esse esquema de coação e chantagem do bicheiro.****
Em troca, a revista da família Civita recebia do contraventor informações,
gravações e materiais – na maioria das vezes obtidas de formas criminosas –
que alimentavam as páginas da publicação, para destilar seu ódio e
preconceito contra seus adversários políticos, principalmente os do campo
do PT.
A aliança da revista Veja com o crime organizado rendeu denúncias que
reverteram em ganhos econômicos para a organização criminosa de Carlinhos
Cachoeira e seus aliados políticos – os contratos da construtora Delta com
governos estaduais precisam ser profundamente investigados – e se
constituíram em instrumento de pressão e amedrontamento de autoridades
públicas. Dessa forma, consolidaram um esquema criminoso, milionário, com
ramificações privadas e públicas, nas três esferas da República.****
O conluio, mais do que reportagens jornalísticas, rendia conspirações
políticas e econômicas.
O acinte à democracia do país alcançou ao nível de planejar a
desestabilização e queda do presidente Lula e da presidenta Dilma Rousseff.
Enquanto Carlinhos Cachoeira e o senador Demóstenes (ex-Dem) gargalhavam
por fogo no país, a revista projetava o senador como o prócer da moralidade
pública, com perspectivas de vir a ser candidato à presidência da
República. Era o crime organizado, com a participação do Grupo Abril,
tramando desestabilizar governos e tomar conta da máquina estatal.****
No entanto, a revista Veja era pequena e insignificante para os objetivos
que o conluio se propunha alcançar. Precisava de ajuda. Os telejornais da
Rede Globo se prestaram a dar a ajudava de que necessitavam. Com sua
peculiar e esculachada crítica, o jornalista Paulo Henrique Amorim
sintetiza a mútua ajuda que se estabeleceu: “o Jornal Nacional não tem
produção própria. A revista Veja não tem repercussão nacional. O crime
organizado se organiza na Veja e se expande no Jornal Nacional”. Em um
jornalismo sem ética, sem compromisso com a verdade e interesses públicos,
que se dane a verdade factual. O que interessa, para esse tipo de
jornalismo, é a versão dos fatos que atendam aos interesses dos que mantém
o monopólio da informação.****
Sempre que é questionada por praticar esse tipo de jornalismo, a mídia se
defende afirmando que tem a capacidade de se autorregulamentar. O conluio
Veja-crime organizado sepultou essa tese. Até esse momento impera o
silencio da mídia burguesa sobre os vínculos da revista com a organização
criminosa do bicheiro.****
O jornalista Jânio de Freitas, um dos mais renomados colunistas da Folha,
fez uma detalhada radiografia da organização montada pelo contraventor e
suas extensas ramificações. Não disse uma única palavra das suas
ramificações com a mídia. Mais do que escreveu, a sabuja lacuna do seu
artigo evidenciou o medo que impera entre o patronato da grande mídia e a
capacidade desse lamaçal engolir, inclusive, jornalistas decentes.****
Ao pacto de não noticiar a promiscuidade do grupo Abril com o crime
organizado juntam-se, agora que a CPMI está instalada, os esforços para
evitar que os que se beneficiaram com a organização criminosa do Carlinhos
Cachoeira sejam convocados a dar explicações no Congresso Nacional e para
sociedade.
O deputado federal Miro Teixeira (PDT/RJ) articula um pretexto jurídico
para impedir a convocação de jornalistas e proprietários das empresas de
comunicação envolvidas nas atividades criminosas do bicheiro.
Um dos mais altos executivos do grupo Abril já perambulou pelos corredores
e gabinetes do Congresso numa tentativa de evitar que seu patrão, Robert
Civita, tenha que prestar esclarecimentos na CPMI. A Globo, fato noticiado,
enviou um mensageiro para informar (ou seria ameaçar?) o Palácio do
Planalto: se o empresário Robert Civita for convocado pela CPMI, os meios
de comunicação declaram uma guerra sem limites contra o governo.****
É de lamentar que a Rede Globo não tenha a coragem de publicar essa posição
política nos editoriais dos seus jornais e divulgá-la em seus telejornais.**
Caso os parlamentares da CPMI se rendam às pressões dos grupos empresariais
da mídia, estarão sendo coniventes com práticas criminosas e
institucionalizado duas categorias de cidadãos nesse país: os que podem ser
convocados para depor numa CPMI e os que não devem ser convocados.****
Há um enorme volume de informações e provas que atestam que setores da
mídia estão envolvidos com atividades de organizações criminosas e que
atentaram contra a democracia do nosso país. É inadmissível que os que
participaram ativamente na organização criminosa, e dela se beneficiaram,
não sentem no banco dos réus alegando, unicamente, a condição de serem
patrões.
O Congresso Nacional instalou, atendendo os anseios da sociedade, uma CPMI
para investigar as atividades do crime organizado com suas ramificações na
mídia e nas três esferas da estrutura do Estado. Os parlamentares que
compõe essa CPMI tem a responsabilidade de não frustrar a sociedade, apurar
os fatos com profundidade e criar as condições para que seus responsáveis
prestem contas à justiça, além de legar ao país uma legislação que, ao
menos, iniba essa prática de jornalismo associado com o crime organizado. A
Lei dos Meios de Comunicação é cada vez mais necessária e inadiável.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário se preferir!