terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Saúde do (a) Trabalhador (a) - Assédio moral no trabalho: desvelando saúde, emoção e violência

Assédio moral no trabalho: desvelando saúde, emoção e violência
Um problema pouco explorado, mas que vem crescendo nos ambientes de trabalho, o assédio moral e suas conseqüências para a saúde física e mental dos profissionais foi o tema  abordado na palestra da médica do trabalho e pesquisadora do Núcleo de Estudos Psicossociais de Exclusão e Inclusão Social (Nexin-PUC/São Paulo) Margarida Barreto.
Geralmente, em qualquer ambiente de trabalho, essas questões ligadas ao assédio moral aparecem de outras formas, como cansaço, stress, descontrole emocional, ameaça da perda de emprego, enfoque de gênero, cerceamento às informações, formas exclusivas de tratamento e até mesmo a precarização do trabalho. “Muitas vezes, são percebidos tratamentos discriminatórios ao racismo e à homossexualidade. A Leonor acompanha esse trabalho na Fiocruz com a comissão, e o modo de se trabalhar isso é bem criterioso e estruturado. Não podemos reproduzir uma forma de violência para coibir outra forma de violência já em exercício”, conta.
Ao se investigar os problemas de assédio moral, a questão da saúde mental também aparece, e é necessário um bom tratamento do profissional, abordando os limites da intervenção em saúde mental e trabalho, trazendo mais o lado clínico do atendimento no consultório,
Assédio moral: um risco à saúde do trabalhador
“É um tema importante, que vem chamando cada vez mais a atenção daqueles que trabalham com a saúde do trabalhador”. Com essas palavras, a pesquisadora Márcia Agostini (Cesteh/Ensp) abriu a sessão científica ’Assédio moral no trabalho: desvelando saúde, emoção e violência’, realizada na sexta-feira. O evento, promovido pelo Curso de Especialização em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana do Cesteh, teve como palestrante a médica do trabalho e pesquisadora do Núcleo de Estudos Psicossociais de Exclusão e Inclusão Social (Nexin-PUC/São Paulo) Margarida Barreto, uma das maiores estudiosas do tema no país e membro da equipe do site ‘Assédio moral no trabalho. Chega de humilhação!’. A apresentação e o áudio do evento estão disponíveis na Biblioteca Multimídia da ENSP.
Trazendo para a discussão toda a experiência acumulada em vários anos de pesquisa sobre o assunto, uma visível paixão pelo seu trabalho e uma enorme simpatia, Margarida Barreto emocionou o público presente, despertando o interesse pelo tema e dando subsídios à discussão que começa a ser feita na Fiocruz a respeito dessa questão.
Definido pela palestrante como “exposição de trabalhadores a situações vexatórias, constrangedoras e humilhantes durante o exercício de sua função, de forma repetitiva e prolongada ao longo da jornada de trabalho”, o assédio moral, que se caracteriza por ser uma atitude desumana, violenta e sem ética nas relações de trabalho, afeta a dignidade e identidade dos assediados, violando seus direitos fundamentais. “Muitos acreditam que o assédio moral é uma doença. Eu prefiro defini-lo como um risco à saúde do trabalhador que pode trazer inúmeras conseqüências, inclusive o adoecimento físico e mental”, afirmou Margarida.
Segundo ela, o assédio moral, que também pode assumir a feição de violência moral, em alguns casos, é um indicador da existência de violência instituída e institucionalizada. Violência essa que pode impedir a vítima de se exprimir, isolar o assediado, desconsiderá-lo diante de seus colegas, desacreditá-lo no seu trabalho e, por fim, comprometer sua saúde. “O assédio moral desestabiliza emocionalmente o indivíduo, destrói o coletivo e a rede de comunicação, impõe a lógica organizacional e demonstra um predomínio dos interesses da empresa sobre qualquer outra condição humana”, disse, frisando que não se pode dissociar a questão do assédio moral da lógica instaurada nas relações de trabalho. “Esse problema tem ligação direta com as mudanças que o processo de globalização econômica impôs ao mundo do trabalho: a flexibilização das relações trabalhistas, a precarização dos vínculos e a reestruturação das empresas que acabam reduzindo os postos de trabalho, sobrecarregando os trabalhadores e aumentando a concorrência entre eles”, explicou.
Ao longo de sua apresentação, Margarida Barreto descreveu as táticas de relacionamento, isolamento e ataque utilizadas pelos assediadores e enumerou uma variedade de atos presentes nos casos de assédio, como a fofoca, a maledicência, a agressão verbal e, em alguns casos, até mesmo física, a intolerância, as acusações infundadas, as punições injustificadas e o constrangimento, entre muitos outros. Ela também citou vários casos de assédio ocorridos por todo o país, destacando a ação da justiça e a compreensão crescente dos juízes sobre a responsabilidade solidária das empresas nos casos ocorridos.
A especialista destacou a humilhação como principal característica do assédio moral, mas afirmou que a discriminação também é uma marca muito encontrada nos casos relatados. “Existem muitas formas de discriminação que se tornam aparentes nos casos de assédio. Os adoecidos do trabalho, por exemplo, quando retornam de uma licença médica; mas também tem discriminação de gênero, religiosa, racial, de idade e de orientação sexual, entre outras”, descreveu.
Margarida lembrou que casos de assédio existem em todos os tipos de empresas e organizações, públicas e privadas. Ela também mostrou dados de pesquisa que mostram os chefes do sexo masculino como os principais assediadores. No caso de mulheres assediadas, cerca de 10% dos casos de assédio moral começam por assédio sexual que, repelido toma outra feição.
Depois de apontar as conseqüências do assédio moral para os trabalhadores e de mostrar como saudáveis e estimulantes as relações de conflito, que podem evoluir negativamente para situações de assédio, ela apresentou formas de as empresas lidarem com o problema, buscando resolvê-lo antes que seja tarde. “O assédio moral pode acabar resultando em altos custos para a empresa – redução da produtividade, perdas econômicas por processos e perda da imagem pública, por exemplo – e para a União – aumento de gastos médicos e de pagamento de auxílio doença, entre outros –, mas o maior prejudicado é certamente o trabalhador. Há casos em que ele começa a apresentar atitudes irresponsáveis enquanto pai, esposo, irmão, de afastamento e perda de amigos, de aumento de consumo de drogas, de separações e até de suicídio”.
Margarida terminou sua apresentação fazendo um alerta sobre a necessidade de se denunciar casos de assédio moral –“Se hoje nos calamos diante de um caso ocorrido com um colega, amanhã podemos ser a vítima. Nosso silêncio e passividade diante da barbárie beneficiam o infrator e dão continuidade a uma corrente de violência” – emocionando a todos com imagens e áudio da música ‘Eu só peço a Deus’ (Mercedes Sosa e Leon Gieco, com participação de vários cantores, dentre eles a brasileira Beth Carvalho).
O uso deste material é livre, contanto que seja respeitado o texto original e citada a fonte: www.assediomoral.org
 

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