quinta-feira, 21 de julho de 2011

"PAI, COMEÇA O COMEÇO!"















          Quando eu era criança e pegava uma tangerina para descascar, corria para meu pai e pedia: - "pai, começa o começo!". O que eu queria era que ele fizesse o primeiro rasgo na casca, o mais difícil e resistente para as minhas pequenas mãos. Depois, sorridente, ele sempre acabava descascando toda a fruta para mim. Mas, outras vezes, eu mesmo tirava o restante da casca a partir daquele primeiro rasgo providencial que ele havia feito.
          Meu pai faleceu há muito tempo, e há anos, muitos, aliás, não sou mais criança. Mesmo assim, sinto grande desejo de tê-lo ainda ao meu lado para, pelo menos, "começar o começo" de tantas cascas duras que encontro pelo caminho. Hoje, minhas "tangerinas" são outras. Preciso "descascar" as dificuldades do trabalho, os obstáculos dos relacionamentos com amigos, os problemas no núcleo familiar, o esforço diário que é a construção do casamento, os retoques e pinceladas de sabedoria na imensa arte de viabilizar filhos realizados e felizes, ou então, o enfrentamento sempre tão difícil de doenças, perdas, traumas, separações, mortes, dificuldades financeiras e, até mesmo, as dúvidas e conflitos que nos afligem diante de decisões e desafios.
          Em certas ocasiões, minhas tangerinas transformam-se em enormes abacaxis......
          Lembro-me, então, que a segurança de ser atendido pelo papai quando lhe pedia para "começar o começo" era o que me dava a certeza que conseguiria chegar até ao último pedacinho da casca e saborear a fruta. O carinho e a atenção que eu recebia do meu pai me levaram a pedir ajuda a Deus, meu Pai do Céu, que nunca morre e sempre está ao meu lado. Meu pai terreno me ensinou que Deus, o Pai do Céu, é eterno e que Seu amor é a garantia das nossas vitórias.
          Quando a vida parecer muito grossa e difícil, como a casca de uma tangerina para as mãos frágeis de uma criança, lembre-se de pedir a Deus:
          "Pai, começa o começo!". Ele não só "começará o começo", mas te ajudara a resolver toda a situação com você.
          Não sei que tipo de dificuldade eu e você encontraremos pela frente neste ano. Sei apenas que vou me garantir no Amor Eterno de Deus para pedir, sempre que for preciso: "Pai, começa o começo!".

Parte de minha história, minha infância feliz!
Homenagem ao meu amado pai
Recebi a mensagem acima em meu e-mail. Fiquei emocionada, pois lembrou-me de minha infância. 06 irmãos, meus pais, uma casa pequena (depois nos mudamos para uma maiorzinha), vida difícil, pagando aluguel, meu pai dando um duro enorme para nos sustentar e minha mãe a cuidar de nós e da casa. Todos nós, natural de Recife, fomos morar numa cidade do interior porque meus pais faziam questão de todos os seus filhos estudassem e, cidade grande é sempre mais difícil a vida.Ele trabalhava em recife e, sempre vinha para casa nas sextas feiras. Muitas vezes nosso alimento acabava, dando apenas para o almoço, então, minha mãe, a tarde nos arrumava e ficávamos a esperar nosso pai, todos os seis, sentadinhos na calçada de casa e ela nos vigiando e esperando por ele conosco. A tardinha ele apontava na esquina, cheios de sacolas, trazendo comida para nós e até uns brebôtes (como minha mãe chama: biscoitos, pipoca, bombom...). Ele nos abraçava, aliás nós ficávamos em volta dele e ele abraçava todos, dava um beijo na minha mãe e levava a cordinha de carangueijo (nós de mãos dadas) até uma vendinha nos colocava numa mesa e pedia bolo, refrigerante, pipoca para nós. Era realmente uma festa e das melhores para nós. Nunca, jamais esqueço essa parte de minha vida. Éramos inocentes e muito felizes, mas, muito mesmo. Eu era muito danadinha e respondona e um dia, uma tia minha me passou um rela e quando ela deu as costas, estirei um dedo e dei lingua para ela. Para meu azar ela virou-se na hora e viu, foi imediatamente se queixar a minha mãe. Quando meu pai chegou minha mãe foi logo contar meu mal feito. Meu pai não costumava bater em nós, mas, quando estrapolávamos levávamos umas boas palmadas. Nesse dia, ele chegou e disse: Nadir venha cá!eu disse: senhor? ele: você deu lingua para sua tia? eu não pai! não minta para mim! dei, porque ela é chata e brigou comigo! se ela brigou foi porque você mereceu, venha cá! lá fui eu, levei três palmadas no bumbum e abri o berreiro: buá, buá, buá... Agora vá para o quarto ficar de castigo para nunca mais você desrespeitar os mais velhos. Cheguei no quarto e continuei a chorar, não pelas palmadas mas, porque havia levado um carão de meu pai.  Depois ele disse: jante e vá dormir, então eu jantei e com raiva sem olhar para ele fui para o quarto. Quando eu ja ia deitar ele disse: Nadir, cadê a benção? e eu calada, ele de novo: não vai tomar a benção? e eu: abenção pai? e ele: Deus te der vergonha e juízo, agora vá dormir. A partir dai aprendi a respeitar os mais velhos e a reconhecer quando eu aqui ou ali fazia uma travessura. Eu sempre fui muito respondona e, podem acreditar, aos 30 anos, mãe de dois filhos, divorciada, trabalhando e fazendo faculdade, um belo dia por merecimento levei umas palmadas de minha mãe, essas foram as últimas, pois foi quando percebi que estava na hora de me comportar como adulta e ver que ela sim precisava de mim. Tenho muitas outras coisa a contar, muitas histórias, lembranças maravilhosas, algumas dolorosas. Pois é, em 2002 meu pai foi ao encontro do altíssimo. Foi horrível para todos nós, inclusive para meus filhos que o considerava um pai avô. Ficamos sem chão, desolados, mas, Deus sempre dá o conforto aos nossos corações. Meu pai mais jovem era boemio e nas horas vagas ganhava uns trocados cantando em serestas na nossa cidade, pois a voz dele era idêntica a de Altemar Dutra, mas, também cantava muito bem as músicas de Nelson Gonçalves, dentre outro eram os ídolos dele. Lembro que as vezes ele me levava junto quando ia cantar, eu aperriava muito e ele acabava cedendo. Me colocava numa cadeira junto a ele e a seresta começava. Eu sempre pedia para ele cantar: Ave Maria no Morro e ele cantava divinamente para mim. Hoje tem uma Música de Altemar Dutra que expressa minha infância e eu sempre me emociono ao escutá-la e é com essa música que homenageio meu pai, um grande homem, humilde, batalhador, amoroso, justo e que sabia nos castigar quando necessário e que tudo nos ensinou e hoje, graças a ele e minha mãe somos gente do bem. Sou grata eternamente a eles pela infância, adolescência, juventude difícil mas, muito feliz. A música abaixo expressa tudo o que não consigo falar.
 
Gente Humilde - Altemar Dutra
Tem certos dias
Em que eu penso em minha gente
E sinto assim todo o meu peito se apertar
Porque parece que acontece de repente
Feito um desejo de eu viver sem me notar
Igual a como quando eu passo no subúrbio
Eu muito bem vindo de trem de algum lugar
E aí me dá como uma inveja dessa gente
Que vai em frente
Sem nem ter com quem contar
*** são casas simples com cadeiras na calçada
E na fachada escrito em cima que é um lar
Pela varanda flores tristes e baldias
Como a alegria que não tem onde encostar
E aí me dá uma tristeza no meu peito
Feito um despeito
De eu não ter como lutar
(e eu que não creio
(peço a deus por minha gente
(é gente humilde que vontade de chorar)






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