segunda-feira, 11 de julho de 2011

A dor de Anita

Anita foi uma menina que cresceu numa família de classe média e bem estruturada. Seus pais, de origem humilde, conseguiram com esforços e honestidade alcançarem seus objetivos e formar uma família na qual Anita era o centro das atenções.

A pequena Anita estudou nos melhores colégios, participava de grupos comunitários e por influência de sua mãe, poeta, desenvolveu sensibilidade artística e cultural. Desde menina já escrevia poesias, cantava e tocava diversos instrumentos musicais divinamente.

Seu pai repetia sempre nas rodas de conversas: essa menina é meu maior tesouro, faço qualquer coisa para protegê-la.

Certo dia, o sol já despontando no horizonte, o latido do cachorro no quintal da casa despertou toda família. Dado a insegurança no nosso país, todos ficaram amedrontados. O pai de Anita, após o susto, disse para sua esposa: amanhã mesmo vou comprar uma arma, desta forma eu posso proteger melhor nossa pequena Anita e você, quero ver bandido entrar mais na nossa casa.

A esposa tentou demover essa triste idéia da cabeça de seu marido, pois sabia que ter uma arma em casa não resolvia nada. Ao contrário, poderia estar criando um problema, mas ele continuava resistente. Anita, vendo que seu pai não tinha sido convencido, apelou para que sua mãe falasse com as autoridades para não dar-lhe a permissão do porte de arma. 

Após um silêncio de tristeza, sua mãe respondeu: estamos no Brasil minha filha, nossa opinião nesse caso não vale nada. Diferente de outros países, como o Canadá, por exemplo, lá as leis sobre armas exigem que a esposa ou parceira do candidato a porte legal de arma seja notificada antes da validação ou renovação do porte de armas. O candidato também precisa de uma referência da esposa ou parceira. Na Nova Zelândia, a polícia tem o direito de perguntar a opinião das atuais ou ex-parceiras. Anita e sua mãe pareciam que estavam prevendo uma tragédia em sua família.

Mais tarde, problemas financeiros e conflitos de outra ordem tornaram o seu marido agressivo em família e durante uma discussão banal com sua esposa, ele perdeu completamente o controle. Lembrando-se que tinha uma arma em casa, de forma insana, pegou o revolver e disparou contra a sua esposa na frente de seu maior tesouro, Anita.

Estudos mostram que uma arma de fogo em casa aumenta o risco em 41% de alguma pessoa na residência ser assassinada, para as mulheres esse risco quase triplica.

Assim, Anita que tinha tudo para ser uma menina feliz, em função de uma arma em casa, passa o maior tempo de sua vida entre visitar seu pai no presídio e sua mãe no cemitério, carregando a sua dor.
Luiz Renato de Araújo Pontes
Pró-Reitor/UFPB

Gente, eu concordo plenamente com a política do desarmamento, mas, essa política tem que servir também para a bandidagem, caso contrário, será o mesmo que  chover no molhado. Anadja

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário se preferir!