segunda-feira, 6 de junho de 2011

Prevenção e Controle da Utilização da Radiação Ionizante por Profissionais da Área Técnica de Radiologia

 A radiação ionizante ocupa, atualmente, acentuado espaço em razão dos avanços tecnológicos em prol da humanidade, seja contribuindo com diagnósticos ou na terapêutica de algumas patologias. O uso dos raios-X constitui o principal tipo de exposição da população à fontes artificiais de radiação ionizante. A utilização dessas radiações representa um grande avanço da medicina, entretanto, requer que as práticas sejam efetuadas em totais condições de segurança, devendo garantir proteção radiológica aos pacientes, profissionais e ao público em geral. Todavia, é necessário desenvolver meios e implementar ações que contribuam para reduzir os erros humanos que levam a exposição à radiação ionizante, bem como minimizar a probabilidade de ocorrência de acidentes.
De acordo com os estudos de (SILVA, 2006) as radiações ionizantes têm sido cada vez mais usadas na medicina contemporânea, inserida em contextos diagnósticos e terapêuticos. O Técnico em Radiologia é o profissional da área da saúde que realiza exames na área de radiologia, ou seja, que produz imagens internas do corpo humano através de uma máquina de raios-X convencional, com o objetivo de diagnosticar problemas ou avaliar as condições do paciente. Suas funções compreendem a preparação, a programação e a operação do sistema de imagens, a preparação do paciente e, muitas vezes, a produção de um relatório descritivo preliminar. Cabe também a esse profissional garantir a segurança do paciente e da equipe de exames, uma vez que a radiação emitida pela máquina é prejudicial à saúde humana.

Os danos ao organismo humano causado pelo uso inadequado da técnica na aplicação de raios-X podem ser irreversíveis. Os efeitos da radiação dependem da dose recebida. Quando é localizada sobre determinado órgão, pode destruí-lo ou lesá-lo. A absorção através da pele é a mais comum e quando atinge todo o corpo o seu principal efeito é sobre o sangue e órgãos formadores de sangue. Está comprovado que a exposição prolongada à radiação ionizante pode provocar anemia, leucemia, câncer de pele, câncer ósseo e câncer da tireóide (DIMENSTEIN, 2004).

O trabalhador de saúde, em especial o Técnico em Radiologia, encontra-se exposto a diversas cargas de trabalho no serviço de radiologia e diagnóstico por imagem, entre elas a carga física de radiação ionizante. Os locais de trabalho contemplam variados riscos e fatores predisponentes ao desequilíbrio biopsicossocial, estes riscos, em grande parte, não são encarados como deveriam e acabam contribuindo para gerar agravos à saúde. Nos serviços de radiologia e diagnóstico por imagem, um dos importantes instrumentos de apoio as inúmeras áreas da medicina, ainda são observados procedimentos operacionais inadequados e condições ambientais inseguras. (HORNOS, 2004).

Medidas de prevenção e controle adotadas com muito critério e correção podem eliminar os riscos de qualquer fonte de radiação, chegando mesmo a manter qualquer exposição abaixo dos níveis estabelecidos. Além dos cuidados especiais com o manuseio dos equipamentos, é necessária a utilização de sistemas de radioproteção, como luvas e óculos de vidro plumbífero. Hospitais e clínicas médicas e odontológicas que utilizam raios-X devem se preocupar também com as blindagens, que são as barreiras feitas de materiais capazes de absorver radiações ionizantes.(FREITAS, 1994).
                                                               
Com a expansão do uso das radiações ionizantes na Medicina e Odontologia no país e diante dos riscos inerentes ao uso destas radiações, o Governo Federal decidiu estabelecer normas específicas sobre o tema. O Ministério da Saúde, através da Secretaria de Vigilância Sanitária, estabeleceu a Portaria nº. 453, de 1º de junho de 1998, que trata das diretrizes básicas de proteção radiológica em radiodiagnóstico médico e odontológico e dispõe sobre o uso dos raios-X em todo o território nacional. A referida Portaria diz ainda que as medidas devem ser adotadas em todo território nacional e observadas pelas pessoas físicas e jurídicas, de direito privado e público, envolvidas com a utilização dos raios-X diagnósticos.

Compete aos órgãos de Vigilância Sanitária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, o licenciamento dos estabelecimentos que empregam os raios-X diagnósticos, assim como a fiscalização do cumprimento deste Regulamento, sem prejuízo da observância de outros regulamentos federais, estaduais e municipais supletivos sobre a matéria. A inobservância dos requisitos constitui infração de natureza sanitária nos termos da Lei 6.437, de 25 de agosto de 1977, ou outro instrumento legal que venha a substituí-la, sujeitando ao infrator o processo e penalidades previstas, sem prejuízo das responsabilidades civil e penal cabíveis.

Os efeitos ocasionados do uso das radiações ionizantes sobre o organismo variam de dezenas de minutos até dezenas de anos, dependendo dos sintomas. As alterações químicas provocadas pela radiação podem afetar uma célula de várias maneiras, resultando em: morte prematura, impedimento, retardo da divisão celular ou modificação permanente, sendo passada para as células de gerações posteriores. (BRASIL, 2001).

A reação de um individuo à exposição de radiação depende de diversos fatores como:
• Quantidade total de radiação recebida;
• Quantidade de radiação recebida anteriormente pelo organismo, sem recuperação;
• Textura orgânica individual;
• Dano físico recebido simultaneamente com a dose de radiação (queimadura);
• Intervalo de tempo durante o qual a quantidade total de radiação foi recebida.

É bom salientar que o efeito biológico constitui a resposta natural de um organismo, ou parte dele, a um agente agressor ou modificador. O surgimento destes efeitos não significa uma doença. Quando a quantidade de efeitos biológicos é pequena, o organismo pode se recuperar sem que a pessoa perceba. Por exemplo, numa exposição à radiação X ou gama, pode ocorrer uma redução de leucócitos, hemácias e plaquetas e, após algumas semanas, tudo retornar aos níveis anteriores de contagem destes elementos no sangue. Isto significa que, houve a irradiação, ocorreram efeitos biológicos sob a forma de morte celular e, posteriormente, os elementos figurados do sangue foram repostos por efeitos biológicos reparadores, operados pelo tecido hematopoiético. Por outro lado, quando a quantidade ou a freqüência de efeitos biológicos produzidos pela radiação começa a desequilibrar o organismo humano ou o funcionamento de um órgão, surgem sintomas clínicos denunciadores da incapacidade do organismo de superar ou reparar tais danos, que são as doenças.

Assim, o aparecimento de um tumor cancerígeno radioinduzido, significa já quase o final de uma história de danos, reparos e propagação de vários anos após o período de irradiação. A ocorrência de leucemia nos japoneses, vítimas das bombas de Hiroxima e Nagasaki, teve um máximo de ocorrência cinco anos após. As queimaduras originárias de manipulação de fontes de Ir 192, em acidentes com irradiadores de gamagrafia, aparecem horas após. Porém, os efeitos mais dramáticos, como a redução de tecido, ou possível perda dos dedos, podem levar até seis meses para acontecer.

Os efeitos radioinduzidos podem receber denominações em função do valor da dose e forma de resposta, em função do tempo de manifestação e do nível orgânico atingido. Assim, em função da dose e forma de resposta, são classificados em estocásticos e determinísticos; em termos do tempo de manifestação, em imediatos e tardios; em função do nível de dano, em somáticos e genéticos (hereditários).

Conclui-se, portanto, que nos últimos anos o mundo tem assistido a mudanças profundas em praticamente todos os processos produtivos. A área de saúde está inserida neste contexto, e o segmento de diagnóstico por imagem tem experimentado avanços significativos e extraordinários nas ultimas décadas, contribuindo expressivamente para a detecção precoce de doenças e, conseqüentemente, para o aumento da expectativa de vida da população. Todavia, é importante frisar que toda essa tecnologia só se materializa como beneficio efetivo com a utilização adequada.

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Francisco de Assis Félix da Silva - Técnico em Radiologia do Ministério da Saúde – Professor da Faculdade Santa Emilia de Rodat e Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Cruzeiro do Sul

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