quarta-feira, 26 de agosto de 2015

A profissionalização e o facilitador!

por Antonio Luiz de Paula e Silva diretor executivo do Instituto Fonte de 2004 a 2006
O que é "profissionalização"? O que implica profissionalizar uma iniciativa social? Qual o papel do facilitador neste processo? Questões como estas são matéria-prima para reflexões deste editorial. A palavra “profissionalização” tem ocupado cada vez mais espaço no vocabulário de muitas iniciativas sociais. De fato, parece que no curso de seu desenvolvimento, é necessária a incorporação de algo novo e esse algo novo é expresso com a palavra “profissionalização”. No entanto, seu entendimento ainda está sendo construído. Uma possível concepção de profissionalização está relacionada à ideia de boas práticas. Uma iniciativa social que se profissionalizou é aquela que passou a adotar um conjunto de práticas consideradas “excelentes” no meio em que ela se insere. Boas práticas têm a ver com a presença de um conselho, a incorporação de avaliação sistemática, realização de planejamento estratégico, gestão financeira baseada em orçamento e controle intensivo de custos, contratação de um captador de recursos e daí por diante. A partir desse ponto de vista, profissionalizar é preencher uma série de requisitos. Esses requisitos muitas vezes são estabelecidos de fora para dentro. Algumas organizações financiadoras, por exemplo, trabalham com esses requisitos em mente e, conscientemente ou não, acabam por projetá-los nos seus parceiros esperando que eles atendam às suas expectativas. Isso costuma gerar sofrimento. É como se um adulto esperasse de um jovem adolescente que ele tivesse o comportamento de uma pessoa madura. É comum, a partir desta concepção de profissionalização baseada em boas práticas, que se espere um comportamento pré-determinado de pessoas e organizações. Um doador trabalhando com oito parceiros diferentes esperará que todos adotem as mesmas práticas de gestão, por exemplo. Porém, isso pode causar distanciamento e até uma profunda incompreensão mútua. Para lidar com isso, líderes de iniciativas sociais acabam adotando um novo tipo de discurso, orientado às expectativas de seus parceiros, sem, entretanto, alterar suas premissas significativamente. Profissionalização pode também ser entendida como uma etapa, uma fase no desenvolvimento de uma organização. Assim como uma pessoa passa por fases no decorrer de sua vida (infância, adolescência e idade adulta), também uma iniciativa social percorre um caminho de amadurecimento no decorrer da sua história. Um novo estágio contém premissas diferentes do estágio anterior. A passagem para um novo estágio de desenvolvimento pressupõe o abandono de premissas que não servem mais e a adoção de uma nova mentalidade. Essa passagem pode ser permeada por uma crise, com diferentes proporções. Uma crise não assumida costuma se tornar percebida por pelo menos duas maneiras: desentendimentos e falta de dinheiro. Quando esses sintomas aparecem pode ser indício de que algo estrutural precisa ser revisto. Em termos de desenvolvimento, não se pode pular etapas. Nenhuma criança pode pular a adolescência no afã de se tornar adulta. Se o fizer, gerará uma patologia. Sob essa concepção, um estágio de profissionalização tem a sua hora certa para acontecer, bem como seu caminho próprio, para cada iniciativa social. E esse processo se dá de dentro para fora. Uma profissionalização começa a ser considerada numa iniciativa social quando começa a ficar evidente que uma fase pioneira, empreendedora, patriarcal ou matriarcal está chegando ao seu limite. O grupo (ou indivíduo) fundador começa a não dar mais conta das demandas que vêm a ele, a sua equipe deseja cada vez mais incorporar novas idéias à atuação institucional, o desejo de crescer se contrapõe ao excesso de atribuições, a maneira centralizada de decidir torna-se muito lenta e confusa, a improvisação não dá mais os resultados esperados, as formas “familiares” de formação de equipe geram desconfiança na capacidade das pessoas, regras e políticas mais claras são consideradas necessárias, emergem dúvidas sobre o sentido das ações sendo feitas. Tudo isso pode acontecer simultaneamente ou aos poucos, diferente em cada caso, gerando incerteza e insegurança. Profissionalizar é, portanto, um processo, a construção de uma maneira de responder de forma adequada a uma conjuntura mais complexa. Nesse processo, um novo conjunto de premissas deverá ser assumido com consciência, de modo que se sustente e não, ao contrário, aprofunde uma situação crítica. Novas premissas tendem a reequilibrar as tensões entre centro e periferia, formalidade e informalidade, planejamento e improvisação, resultado e processo, pessoalidade e impessoalidade, forma e conteúdo, ação e aprendizagem, entre outras. O papel do facilitador é contribuir com que o grupo responsável por uma iniciativa social dê um passo adiante em seu próprio desenvolvimento. Ele pode, com perguntas, ajudar as pessoas a se dar conta das premissas que vêm adotando e suas conseqüências. Quando ganham compreensão sobre a relação entre o seu modo de agir e a situação em que se encontram, as pessoas podem sair da posição de vítimas e assumir responsabilidade pelo que estão vivendo. O facilitador deve tornar mais fácil o movimento de dentro para fora e a expressão do potencial existente em cada iniciativa.

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