sexta-feira, 12 de novembro de 2010

O cavalo manco e o puro-sangue - Texto Antonio Ermírio de Moraes

Os trabalhadores têm muito a aprender, mas não podemos negar que apontaram a seta do governo na direção de deixarmos de ser colônia extrativista. Isto já surtiu efeito no enfrentamento da última crise mundial: se o país estivesse com o modelo econômico anterior teria quebrado; isto foi dito por todos os segmentos da mídia (fora do contexto partidário) antes do processo da campanha política.

Se o governo não tivesse aberto agressivamente novos mercados com economias emergentes os efeitos teriam sido devastadores. Isto é sério e só aconteceu porque a direção foi mudada. As bases econômicas do governo FHC foram aproveitadas até um certo ponto, mas se não se mudasse a estratégia, o Brasil teria quebrado como ocorreu nas outras crises.

A aposta no mercado exterior emergente e no mercado interno, via inclusão social, é reconhecida no mundo inteiro como uma grande sacada deste governo que salvou o país de um grande desastre.

O interessante é que foi apenas uma questão de auto-estima. Por incrível que pareça, o governo Lula adotou a estratégia nacionalista dos governos militares e deu certo. O que aflige o pessoal que governou nas décadas passadas é que o novo posicionamento foi ideológico, deu certo: o país se protegeu e cresceu. A fome, a miséria, as desigualdades não seriam nem serão resolvidas em oito anos, basta um pouquinho de bom senso pra enxergar isto.

A priorização no resgate dos pobres via programas de renda mínima e estímulo ao micro-crédito, o aumento em "dólar" de mais de 300% no salário mínimo, entre outras medidas, foram fundamentais para reduzir as desigualdades, irrigar a economia de forma bem pulverizada – com dinheiro que gera emprego – e germinou o ciclo virtuoso da economia.

Com o aproveitamento e o aperfeiçoamento das bases econômicas, bastou a decisão política de acreditar que podemos sonhar em deixar de ser colônia extrativista.

Ainda estamos longe, não temos estradas, portos, aeroportos, escolaridade, sistema de saúde, centros de pesquisa, universidades qualificadas. Mas para que possamos ter um dia todas estas coisas é preciso que tomemos a decisão política de apostar no Brasil, no trabalhador do Brasil, no empreendedor brasileiro, na distribuição de renda via salários dignos, no ciclo virtuoso do bom capitalismo, e esta decisão foi tomada neste governo.

Nesta decisão de política nacionalista, deflagrou-se um programa de investimento maciço em infra-estrutura de longo prazo – que só vai repercutir em oito ou dez anos – visando viabilizar o desenvolvimento do país (reindustrialização nacional, agronegócio, infra-estrutura, geração de energia, etc), com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), representando mais uma vez que a aposta no Brasil deu certo: o iluminado Lula novamente pontuou onde os tucanos falharam.

Quando a crise do primeiro mundo chegou, o ciclo virtuoso tornou-se auto-sustentável.

O capital produtivo já havia apostado no Brasil e o país já se mostrava como uma decisão acertada.

Em todas estas frentes estratégicas, o governo anterior apostou que as multinacionais tomariam nossas frentes produtivas sem interferência do estado, via privatização, etc, e que gerariam novos empregos, porque os trabalhadores venderiam sua mão-de-obra barato e os recursos naturais estariam à sua mercê para extrair e produzir fartos lucros.

Ledo engano. As múltis são fiéis às suas origens, seu compromisso é o de envio dos fartos lucros para as matrizes.

Esta decisão estratégica errada estava transformando o país em quintal extrativista do mundo, deixando os industriais locais à margem do processo, com a maioria da população condenada ao subdesenvolvimento, enquanto uma minoria fazia compras nos shoppings de New York e Londres.

O mundo desenvolvido, antes de ser o que é, passou por decisões estratégicas de governo; as coisas não acontecem sozinhas. Esta foi a direção errada do governo anterior, acreditar que o lobo seria o melhor guardião do galinheiro e não apostar na capacidade do empreendedor e do trabalhador brasileiro.

Os trabalhadores têm muito a aprender e isto ficou evidente nos poucos anos de poder, mas os neocapitalistas de visão curta estiveram no poder a vida inteira e já mostraram muito bem o modelo de sociedade que desejam.

Prefiro levar meu cavalo manco para a fonte do que seguir de puro-sangue para o deserto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe seu comentário se preferir!