Medo da violência
O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) realizou uma pesquisa de opinião pública sobre a reação dos brasileiros com relação à violência no país. Nesta pesquisa, a Região Nordeste é a que mais teme a violência.
O brasileiro há muito tempo vive sob uma constante tensão com relação à violência, embora muitas vezes não perceba. Comprovei esse fato comigo mesmo.
Em 1987, estava acabando de chegar a Nancy, uma cidade universitária e tranquila da França, para passar uma temporada. Fui morar num bairro onde já habitavam outros brasileiros, e algumas vezes nos reuníamos pra trocar ideias e falar dos acontecimentos no Brasil. Certo dia, ao retornar, às 21h, para meu apartamento, a pé, bastava atravessar um parque e já estava em casa, fui abordado por duas pessoas que estavam paradas dentro de um carro. No primeiro momento, pânico geral, me veio à sensação que iria ser assaltado. Nem que eu quisesse correr, não conseguiria. Depois veio o alívio, aquelas pessoas queriam apenas saber onde ficava uma determinada rua. Foi ai que percebi como, nós brasileiros, vivemos constantemente com medo da violência, refletindo na nossa qualidade de vida.
Naquela época, a violência era mais concentrada no sudeste do país, sobretudo, Rio de Janeiro e São Paulo. No Nordeste, a violência maior era em Recife. Na nossa capital da Paraíba, João Pessoa, comentava-se que era um paraíso. Podia-se andar a pé pela cidade, a qualquer hora, nada acontecia.
Segundo a pesquisa do Ipea, esse quadro mudou. A violência bateu a porta dos nordestinos e, consequentemente, aumentou o medo da violência na nossa região, com relação às outras regiões do país.
O alto índice de violência na região sudeste, com repercussão, entre outras, no turismo, afetando assim a economia da região, obrigou aos governos estaduais e federal a atuarem em parecerias de forma mais efetiva. O Estado subiu o morro com ações sociais para aquelas comunidades e repressão aos traficantes de drogas. Resultado, atordoados, a bandidagem procurou outras modalidades de atividades na própria região, como arrastões nos restaurantes, ou continuaram atuando no tráfico, agora no Nordeste.
O Nordeste, com alto índice de pobreza e corrupção, passou a ser o paraíso da bandidagem, sobretudo, o tráfico de drogas. Todos os dias a imprensa noticia a mortes de jovens envolvidos no tráfico, além da prisão de traficantes que deixaram de atuar no sudeste para vir atuar no nordeste.
É preciso urgente ações mais efetivas dos governos estaduais da nossa região, conjuntamente com o governo federal. Caso contrário, os nordestinos não só irão aumentar o medo da violência, mas ficarão enclausurados em suas próprias casas.
Luiz Renato de Araújo Pontes
É Professor e Pesquisador da UFPB e Coordena o Laboratório de Materiais e Produtos Cerâmicos – LMPC/CT/UFPB.